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LIVE PELA VIDA




CIEP 449 – Brasil França


Preparei-me para falar para vocês sobre Adolescência em Tempos de Pandemia e como o confinamento que é um meio para se impedir a propagação do COVID 19, está sendo vivido por eles.

Achei muito bem-vinda a proposta dessa escola, alertar aos professores, aos pais e aos próprios alunos sobre esse tempo. O que dizemos de uma maneira geral é que se trata de um momento muito ruim de se suportar, pelas condições que estamos vivendo: insegurança, sentimento de injustiça, medos referentes à perda de emprego dos pais, perdas de rotinas, perdas de parentes, pessoas amigas, lembrando que desde o início da pandemia foram a óbito mais de 580 mil brasileiros.

Essas condições nas quais estamos vivendo, gerou:

- Ansiedade, angústia, tristezas, incertezas, estresse.

Essas coisas acontecem em nossas vidas naturalmente, mas, com a pandemia elas se intensificaram, gerando danos psicológicos, que se não forem cuidados, podem ser irreversíveis.

Adolescência é o momento mais importante de nossas vidas. É tempo de transição, por isso muita inquietação e questionamentos! É tempo de busca de realização de sonhos, desejos de mudanças, e ele percebe que mesmo num mundo tão conturbado e cheio de incertezas pode ser agente de transformação. Tempo lindo da vida e que por vezes perdemos quando ficamos adultos por nos acomodarmos e deixarmos de sonhar, o que nos faz sermos menos gente.

A adolescência incomoda ao próprio adolescente e a todos que estão ao seu redor. Chega-se a dizer que são aborrecentes pois nos aborrecem, nos tiram de nossa zona de conforto nos desinstalando, exigindo do mundo adulto uma postura ética, verdadeira e transparente. O adolescente quer um planeta mais humano, igualitário, onde liberdade, respeito, dignidade e generosidade sejam direito de todos, onde a fraternidade reine e sejamos verdadeiramente irmãos. A justiça só poderá acontecer, a violência só pode acabar quando o opressor, se fizer irmão do oprimido.

E aí vem a pandemia... o confinamento. O adolescente naturalmente, é o mais vulnerável ao adoecimento mental. E, por essa sensibilidade, houve um aumento de depressão, estresse e ansiedade. Eles perderam sua rede socioafetiva: amizades, colegas de escola, pessoa amada, familiares. Uma rede muitas vezes de proteção. Para eles isso funciona como um massacre! Uma injustiça! O que fazer num tempo em que, quando ansiavam por liberdade e desejosos de assumirem a si mesmos, onde conseguiam negociar suas aspirações com seus pais, professores, com os adultos que dele circundavam, e que eram visíveis e agora, são barrados por um micro-organismo não visível a olho nu. Loucura total!!

Somos seres sociais e o adolescente só possui identidade em contato com o grupo. Eles se identificam com uma trupe que apresentam uma cultura própria, no jeito de se vestir, pentear calçar, buscam os mesmos lugares, as mesmas músicas e militam o mesmo ideal. Com o distanciamento social, perderam os abraços que gostavam de se dar e receber, os jogos de futebol, as longas conversas, perderam-se de si, perderam seu sentido de pertença, seu sentido de vida. Isso é terrível!! Tem muita dor! Por isso ficam tão conectados na internet, nas redes sociais e WhatsApp, pois aí podem dizer de suas tristezas e aflições que obviamente não é a mesma coisa!

“Pra que fui nascer nesse tempo”! “Não aguento mais tele aulas”! “Nossos professores não têm domínio de mídia, às vezes a internet deles é ruim, às vezes, a minha está ruim”. “Não tenho computador, uso o celular da minha mãe, meu irmão também precisa e só tem um, vem briga”. “Ficar de cara exposta na tela? De jeito nenhum. Me ver o tempo todo me incomoda. Aí saio da tela, escondo minha imagem e acabo dormindo ou jogando. Tiro notas ruins, mas, não consigo ficar ligado o tempo todo ao que o professor diz.”

As consequências disso, são vivências de angústia, vazio, tristeza, falta de vontade de realizar atividades que antes geravam prazer, falta de energia, como se fosse preguiça, cansaço constante, dores e alterações no corpo (aperto no peito, dores nas pernas, queda de cabelo, unhas fracas, vômitos), mudanças de humor e de comportamento, gerando irritabilidade e agressividade, alterações no sono e na alimentação, dificuldades cognitivas que prejudicam o aprendizado, comportamentos autodestrutivos, sentimento de culpa, sintomas de ansiedade. Um quadro perfeito para definir a presença da depressão, a doença do século, e que aumentou drasticamente com o confinamento.

Na pandemia um medo nos ronda e uma sensação de desamparo e insegurança nos invade. A imprevisibilidade também nos ameaça pois não sabemos o que vai acontecer amanhã.

Existe uma pressão muito grande para não atrasar o ano letivo, preocupações com o futuro, e com o vestibular. “Terei aula, vou encontrar meus amigos? Quero desabafar”! “Vou pegar a doença”? “Vou para a escola, mas posso levar o COVID para minha avó”. No ar, um cheiro de agressão, violência intensificada nesses tempos de “silêncio”, onde o abuso sexual e psicológico aumentou, onde o suicídio cresceu 16% nessa faixa etária.

Outra coisa que a pandemia ressaltou foi o luto. O adolescente vive o luto pela perda do corpo infantil e todas as benesses que a infância lhe oferecia. E eles costumam manifestar essa dor, através das roupas que usam (geralmente pretas ou escuras), nos melodramas normais, intensificados no momento. Antes do confinamento, a morte para eles era vista como algo distante, nada de ruim lhes acontecia, podia até acontecer com um colega desprevenido, mas, não com ele. Entretanto, esse luto foi agora evidenciado de maneira intensa: “perdi meu avô, minha tia, meu amigo, minha mãe, meu pai, meu irmão”. Há uma reação grande de estresse, e por vezes os pais não conseguem compreender a real situação que seu filho adolescente está vivendo. Isso os magoa profundamente. Veem-se negligenciados, e não amados. Às vezes ouvem dos pais palavras duras, críticas absurdas, num negacionismo acerca do que o filho sofre deprimido. “Isso é preguiça!” “Você não quer nada na vida, e se perder o ano vai trabalhar, não vou mais suportar essa enrolação toda!” “Depressão não é doença!”

Vejo angústia nos pais, que não sabem que atitude tomar, mesmo dando o seu melhor.

Como podemos ajudar?

Paciência é a primeira necessidade. Paciência consigo e com o filho ou a filha. Certeza de que tudo vai passar, como a adolescência, a pandemia tem começo, meio e fim.


Estimule diálogos, mesmo quando demonstrem não gostar de ouvir os pais, mesmo quando os pais se sintam rejeitados, sentirão que estão sendo cuidado (temos por estatística que a maior agressão que o adolescente está sofrendo no momento é a negligência). Não seja invasivo e procure praticar a comunicação não violenta, buscando se colocar no lugar dele, sendo empáticos.

Compreenda suas necessidades, procure escutá-los.

Crie uma rotina, quanto a horários de dormir, acordar se alimentar, estudar, procurando fazer com que seja possível a família estar junta, isso gera segurança e estreita laços.

Engaje-os em atividades e hobbies tais como jogos, vejam séries juntos, procurando trocar ideias sobre o que viram, façam caminhadas, tudo isso pode estreitar vínculos familiares. Vão reclamar, dizer que não querem, mas, esforcem-se para conseguir seu intento, procurando planejar com eles as atividades de lazer.

Oriente-os a não sofrerem por amor. Muitos relacionamentos acabaram na pandemia e essas experiências são o fim do mundo para eles. Conte suas próprias experiências.

Ofereça-se para ajudá-los no estudo, lembrando que é difícil estudar em frente à uma telinha de computador e que qualquer erro pode ser motivo para acreditarem que estão destinados ao fracasso. Fique junto apoiando-os, de modo que não se sintam tão confusos.

Explique a gravidade da situação de forma clara falando sobre prevenção e esperanças.

Divida com eles suas histórias de angústia, de fracassos, mas também de alegrias e vitórias.

Niterói, 03/09/2021

Carmen Cyrino















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